É tão fácil amar os animais, eles são tão fofinhos!
Eles entendem tudo o que a gente fala, se comunicam com os olhos, às vezes tenho certeza que eles até me respondem! Eles entendem comandos, às vezes fingem não entender de propósito como se estivessem se fazendo de bobos (ou nos fazendo de bobos). Eles brincam, eles pedem carinho, eles escolhem os brinquedos favoritos… Eles sabem que sou eu quem coloca comida pra eles, então eles me têm como pessoa favorita também. Eles fazem careta, sorriem, fazem cara de confuso quando não entendem ou a cara do gatinho do Shrek quando querem algo.
Quando eu chego, uns abanam o rabo, outros dão voltas nas minhas pernas e se esfregam nelas como se estivessem me acarinhando ou se esfregando no meu cheiro que eles sentiram tanta falta, outros pulam de alegria, outros me dão lambeijos, outros “gritam” de felicidade e outros até se mijam de tanta alegria que não dá pra conter por dentro.
Eles fazem xixi no lugar errado ou mastigam algum móvel pra chamar atenção, afinal, eles são igual criança, então qualquer tipo de atenção é válida. Eles me acordam se estão com fome e já passou do horário deles de comer, eles sabem exatamente como agir pra me fazer levantar da cama, seja subindo na minha cara enquanto eu durmo, ou batendo na porta do meu quarto com as patas até eu levantar, ou até mesmo “gritando” sem parar pra me chamar até que eu faça o que eles querem.
E eu sei que eles reconhecem até como eu me sinto, quando estou triste, eles tentam me animar, ou ficam apenas ao meu lado demonstrando apoio de um modo que eles não ficam normalmente, eu sei que eles sentem que estou num momento ruim e querem me ajudar de alguma forma. E não sou só eu que tenho momentos ruins, quando eles ficam muito tempo sozinhos, eles ficam ansiosos, é a ansiedade do abandono.
Eu quero levar eles comigo pra todo lugar porque tenho eles como filho, não é atoa que temos tantos lugares pet friendly hoje, a maioria das pessoas que têm animais, sabem bem que eles são parte da família. E além de chamar eles de filho, eles também nos dão responsabilidades de filhos, alguns até vão pra creche, tem carrinhos de bebê pra passear, hoje dão até chupeta pra acalmar alguns.
Gastamos tanto com veterinário, é pavoroso quando estão doentes, é muito difícil pensar que um dia eles também se vão porque é o ciclo da vida, queríamos que eles fossem eternos, e na melhor das hipóteses, esperamos que eles morram de velhice; e não de doença, por isso damos a melhor qualidade de vida pra eles. Alguns têm tumores, outros tem diabetes, outros têm depressão, também podem ter arritmia, doenças parecidas com Parkinson, doenças renais ou dermatite, além de infecções ou inflamações como otite, hepatite ou até mastite.
Mas faremos o possível e o impossível para curá-los, buscamos veterinários especializados, fazemos dívidas e criamos até vaquinha pra tentar subir o dinheiro necessário, não podemos perdê-los pra doença nenhuma, isso é inadmissível.
Nós amamos eles, são nossos filhos!
E por mais que me doa, eu me sinto na obrigação de saber, ou reconhecer, que algumas pessoas não se sentem do mesmo jeito, que nem todos os animais têm a mesma sorte de fazer parte de um lar tão amoroso quanto o que eu posso oferecer. Por mais revoltante que seja saber que muitos deles são vítimas de negligência, que tantos sofrem maus tratos, milhares são abandonados, são privados de água e comida, arrancados de suas famílias, ficam horas expostos no sol ou chuva sem qualquer proteção.
Antigamente, muitos acreditavam que animais pretos traziam azar. Por causa disso, eles eram perseguidos, maltratados e até mortos por puro preconceito e superstição. Hoje, embora essas crenças tenham perdido força, ainda vemos resquícios dessa discriminação. Animais sem raça definida, muitas vezes os mais vulneráveis, são abandonados em maior número, enquanto cães de raça são comprados e exibidos como símbolos de status, mesmo quando essas raças estão associadas a problemas genéticos graves que comprometem sua qualidade de vida.
Mas há algo a ser admirado na maneira como as pessoas têm superado algumas dessas ideias ultrapassadas. Aos poucos, estamos percebendo que o valor de um animal não está em sua aparência ou raça, mas em sua capacidade de amar e ser amado. Cada vez mais pessoas estão adotando animais sem raça definida, acolhendo aqueles que antes seriam descartados. Isso mostra que estamos aprendendo a enxergar além das diferenças superficiais e reconhecendo que todos os animais são dignos de amor.
É difícil imaginar que alguém possa ser indiferente ao sofrimento deles. Eles são tão sensíveis, tão inteligentes. Cada um deles tem sua própria personalidade, seus próprios gostos e manias. Alguns são mais brincalhões, outros mais reservados; alguns têm medo de trovões, outros adoram correr na chuva. Eles têm medos, desejos e sonhos simples, como qualquer ser vivo que busca conforto, segurança e amor. Eles confiam em nós cegamente, entregam suas vidas em nossas mãos, como se soubessem que somos capazes de protegê-los do mundo cruel que existe lá fora.
Mas nem sempre conseguimos protegê-los. Nem sempre conseguimos garantir que todos eles tenham uma vida digna. E isso é algo que me consome por dentro. Porque não é só sobre os que vemos nas ruas ou nos abrigos lotados; é sobre aqueles que nunca conhecemos, aqueles que vivem longe dos nossos olhos, escondidos atrás de muros altos ou em lugares onde ninguém ousa olhar. Eles também têm olhos que pedem ajuda, corpos que sentem dor e corações que desejam viver.
Ainda assim… há algo difícil de aceitar: algumas pessoas comem eles. Pra isso, pagam pra que eles sejam mortos, vivam em condições tão precárias que eu não desejaria nem para o meu pior inimigo, condições análogas a escravidão, e ouso dizer que até análogas aos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial.
E quando penso nesses outros… nesses milhares… nesses milhões… meu coração aperta. Porque eles não têm nomes bonitos ou brinquedos favoritos. Não têm camas macias ou passeios no parque aos domingos. Não têm aniversários comemorados com bolos especiais ou fotos compartilhadas nas redes sociais. Eles vivem vidas curtas e miseráveis, muitas vezes sem nunca sentir o toque gentil de uma mão humana ou ouvir palavras de carinho.
Eles também sentem medo quando estão sozinhos. Sentem dor quando estão doentes e ninguém os ajuda. Eles choram pela perda de suas famílias, mães arrancadas de seus filhos antes mesmo de terem a chance de conhecê-los. Eles gritam quando são feridos, mas ninguém escuta. E quando finalmente conseguem descansar… não é porque encontraram paz; é porque foram silenciados.
E tudo isso acontece porque nós escolhemos fechar os olhos. Escolhemos acreditar que não há nada errado em tratá-los como objetos, como coisas descartáveis. Escolhemos ignorar o fato de que eles também são seres sencientes, capazes de sentir alegria e sofrimento da mesma forma que aqueles que chamamos de filhos.
Mas como podemos amar tanto uns e ignorar completamente os outros? Como podemos nos emocionar com histórias de resgate enquanto financiamos a exploração? Como podemos dizer que somos contra maus-tratos enquanto contribuímos para um sistema que reduz vidas inteiras a números e produtos?
Não é fácil encarar essa realidade. Eu sei disso. Mas talvez seja necessário. Porque amar os animais não deveria ser seletivo; não deveria depender da espécie ou da conveniência. Amar verdadeiramente os animais significa reconhecer sua dignidade independente do papel que lhes atribuímos na sociedade.
E então eu pergunto: será que o amor pelos animais está realmente no coração ou apenas na superfície? Será que estamos dispostos a olhar além do óbvio e reconsiderar nossas escolhas? Afinal, cada prato conta uma história, e cabe a nós decidir se será uma história de compaixão ou de indiferença.
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